Há alguns anos a palavra startup era completamente desconhecida no Brasil. Recentemente, saiu do anonimato e caiu na boca dos empreendedores. A maioria das empresas brasileiras iniciantes se autodenomina dessa forma – algumas até erroneamente.
O termo em inglês significa, em tradução literal, Start (começar) e Up (para cima). A expressão era utilizada como sinônimo de colocar uma empresa de pé.
A palavra só veio a ganhar um novo significado no fim da década de 1990, nos Estados Unidos, e começou a ser usada para empresas com um perfil específico.
“Startup é um negócio inovador, de alto risco e com potencial de crescimento em larga escala”, afirma Igor Mascarenhas, diretor de investimentos da Startup Farm. “Uma startup vive num ambiente de extrema incerteza e, para quebrar essa barreira, precisa criar algo disruptivo.”
Outros dois fatores são importantes para essa definição: a empresa tem que ser escalável e repetível.
Em outras palavras, deve ter um modelo de negócio que possa ser reproduzido em grande escala, utilizando a mesma estrutura básica, e que o produto ou serviço possa ser entregue com o mesmo padrão de forma ilimitada.
Existem alguns erros comuns quando se trata de definir essas empresas. O primeiro, e mais frequente, é considerar que todo novo negócio de tecnologia é uma startup. “Pode oferecer tecnologia, mas não necessariamente ser inovadora. O requisito é envolver inovação”, diz Mascarenhas.
O segundo equívoco é relacionar uma startups a um tipo de investimento. “Alguns modelos de negócios conseguem obter tração sem receber investimento – o que no mercado financeiro chamamos de bootstrapping [criar uma startup usando somente recursos próprios]”, afirma Mascarenhas. “O que define uma startup não é a captação de recursos.”
PARA SEMPRE STARTUP?
A partir dessa definição, é possível perceber que ser uma startup é algo passageiro na trajetória das empresas.
Mascarenhas acredita que esses negócios passam a ser “tradicionais” quando deixam de viver nesse ambiente incerto. Isso ocorre quando a startup entende o seu cliente, define a precificação, encontra os seus canais e atinge o break-even (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas).
Grandes empresas norte-americanas começaram como startups e, hoje, não são classificadas mais dessa forma, entre as quais a HP, Apple, Google e Facebook.
Mas as estrangeiras não são as únicas. Existem empresas brasileiras que passaram por um processo similar, como a Easy Táxi, aplicativo de táxi, e a VivaReal, plataforma digital que conecta imobiliárias aos consumidores.
“Apesar do crescimento, para o VivaReal, startup é um mindset. É um conceito que remete a adaptabilidade, ação e resiliência às mudanças, que levam empresas e seus negócios a atenderem os consumidores com as demandas que evoluem", afirma Lucas vargas, CEO da VivaReal. "Independente do tamanho, somos uma startup e queremos sempre manter essa mentalidade.”
APLICATIVO DO ICASEI: A EMPRESA QUER SE MANTER INOVADORA
ICASEI
Um dos casos recentes é o iCasei – plataforma que cria sites para casamentos com diversas funcionalidades. Há pouco tempo, a empresa anunciou que deixou de ser uma startup.
O pontapé inicial se deu há quase nove anos, quando os fundadores Priscila e Luis Machado planejaram seu casamento. Eles criaram um site para informar aos convidados detalhes sobre a cerimônia. Na época, perceberam que vários noivos tinham as mesmas necessidades e idealizaram a plataforma, em 2007.
Um dos principais serviços que a empresa oferece é uma lista de presentes.
“Muitos clientes já moram juntos e não querem ganhar presentes tradicionais”, afirma Leonardo Casartelli, gerente de marketing do iCasei.
Por isso, eles criaram uma lista que é formada por uma série de produtos simbólicos. Os noivos escolhem os valores dos itens, que são revertidos em dinheiro para o casal. O iCasei cobra uma taxa de 0,99% sobre o valor do presente, mais as taxas do cartão ou do boleto.
Essa forma de presentear tornou-se a favorita de muitos noivos e, em pouco tempo, a empresa começou a crescer e seu modelo de negócio começou a ser copiado.
“O iCasei foi inovador porque criou um mercado que até então não existia”, afirma Casartelli. “Deixamos de ser uma startup porque nos consolidamos e passamos a ser referência.”
Nos últimos três anos, a empresa cresceu em média 30% e, mesmo com o aumento da concorrência, detém a maior parte do mercado. Em 2014, último ano em que divulgou o valores, o faturamento foi de R$ 10 milhões.
O negócio também foi se diversificando para atender a outras necessidades dos clientes, como uma revista para noivas e um aplicativo que reúne as fotos do casamento.
O grande desafio para os próximos anos é manter a cultura de uma startup, mesmo tendo deixado de ser uma. A ideia é continuar a ser uma empresa inovadora, assim como Facebook e Google fazem até hoje.